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Biblioteca Municipal Tomás Ribeiro
Honoré de Balzac, o Tio Goriot, Lisboa, Portugália, 1969, 396 p.
Livro requisitado na Biblioteca João Soares
Li este livro nos meses que antecederam o casamento e, por isso, só de olhar para ele faz-me lembrar com saudade a leitura. Se, como dizia Thoreau, grandes livros marcam o início de novas etapas da nossa vida, para mim grandes momentos têm de ser acompanhados por livros muito bons! É o caso deste livro e desta altura da minha vida!
Aconselhado por uma amiga, esta leitura superou qualquer expectativa. A história começa com a descrição da pensão da Sra. Vauquer na Rue Neuve-Sainte-Geneviève onde estão alojadas as personages principais: o pai Goriot e Eugénio de Rastignac. Para além destas personagens, temos a senhora Couture, Vitorina, o Senhor Poiret e o perspicaz senhor Vautrin. A menina Michonneau, sem esquecer Sílvia e Cristóvão, empregados da pensão.
A história desenrola-se a partir da experiência de Eugénio, estudante de Medicina em Paris, a dar os primeiros passos na alta sociedade parisiense. Embora provenha de uma família com antecessores aristocratas, Eugénio almeja alcançar sucesso social no meio parisiense. O deslumbramento inicial de Eugénio face ao luxo, leva-o a tentar adoptar esse estilo de vida, através de um procedimento "comum": ligar-se a uma amante rica e de preferência casada...
O solitário tio Goriot entra na história com uma surpreendente reviravolta: Eugénio descobre que é o pai da sua tão desejada duquesa de Nucingen. De facto, Goriot é um antigo industrial que fez fortuna no negócio de massas alimentares e pai de duas filhas bem-casadas com ilustres senhores da alta sociedade. Estas duas filhas vão renegar o pai quando este deixa de as poder sustentar num estilo de vida luxuoso e superficial. O velho pai é explorado até à miséria pelas filhas sem se aperceber. Também Eugénio tenta uma aproximação junto de Goriot para conhecer melhor a filha duquesa.
Este livro é de uma beleza rara na descrição da natureza humana. O crescimento de Eugénio, ao adquirir uma melhor compreensão da sociedade parisiense, fez-me crescer também. O final da história é bem revelador de uma nova sensibilidade face ao sofrimento envolvente com o último suspiro de Goriot a ganhar um sentido tão próximo ao real.
Este é daqueles livros que à medida que se vai lendo, torna-se necessário tomar nota das páginas que descrevem tão bem a natureza humana. Este livro pertence à Estante dos Inesquecíveis e dos Que um dia vou reler.O tio Goriot fez-me pensar nos filhos e na sua educação. Tão bem quis Goriot fazer às filhas, que apenas criou egoísmo. O espírito de sacrifício da família também é bem revelador na história de Eugénio. Um grande livro sobre a natureza humana, capaz de infligir tantas injustiças ao próximo e, ao mesmo tempo, manifestar generosidade sem par.
* De Balzac, já tinha lido "A mulher de trinta anos", precisamente na véspera de fazer os 30 anos em 2010.