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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Book Review - O Ano da Morte de Ricardo Reis


Imagem retirada de:

A leitura deste livro de José Saramago foi impressionante e inesperada. Quando comecei a ler, fiquei completamente rendida a partir do momento em que Ricardo Reis reencontra Fernando Pessoa. 
Em 1935, Ricardo Reis no seu regresso a Lisboa vai encontrar uma cidade cinzenta e um abatimento não resultante apenas da forte chuva mas de um mal mais sombrio. Nas vésperas da guerra civil de Espanha,  sedimentavam-se as bases do regime autoritário em Portugal que espalhava o medo e a desconfiança. A história de Ricardo Reis vai desenrolar-se neste contexto histórico, frequentemente abordado pelo autor. Hospedado no Hotel Bragança, entre o Chiado e a Rua Augusta, Ricardo Reis vai percorrer estes locais numa descrição que nos dá vontade de visitar esses mesmos caminhos. Na história, esse vaguear de Ricardo  Reis vai também conduzi-lo ao cemitério onde está sepultado Fernando Pessoa. Inesperadamente, os dois poetas ainda se vão encontrar pois Fernando Pessoa ainda dispõe de algum tempo para poder "sair" do túmulo e encontrar-se com Ricardo Reis.
No hotel, o médico poeta inicia um caso com Lídia, ao mesmo tempo que vai conhecendo Marcenda, por quem tem uma curiosidade imediata devido às circunstâncias das suas visitas a Lisboa com o pai. Lídia, simples empregada do hotel, retrata uma classe trabalhadora da época, sem acesso à escolaridade básica e consciente das dificuldades da vida, embora esta personagem mantenha ainda uma capacidade de sonhar. Gostei muito desta personagem - Lídia - pela sua sabedoria feita da experiência de vida e pelas ilusões que vai criando, apesar de conhecer uma vida sem grande margem para tal. Lídia tem ainda um irmão republicano na marinha, que a vai informando de alguns pormenores das reivindicações oposicionistas. Na sua simplicidade e confiança, Lídia conta a Ricardo Reis. Infelizmente, a relação entre ambos é muito baseada no contacto físico e as diferenças sociais impedem que  procurem um  futuro para a relação. No entanto, dá para perceber que Lídia sonha com um final diferente...
Marcenda, por seu lado, pertence aparentemente a um meio social mais próximo de Ricardo Reis, com o qual inicia uma secreta relação  epistolar. Marcenda padece de uma doença misteriosa que a impede de movimentar o braço esquerdo. As suas visitas a Lisboa com o pai são regulares e justificam-se com as consultas a um médico particular. Esta é a justificação oficial para a vinda a Lisboa, diria mesmo o motivo socialmente correcto, pois Marcenda sabe que, para o pai, estas visitas servem fundamentalmente para se encontrar com uma amante...
Curioso ainda como quando Ricardo Reis é chamado pela PIDE para se dirigir à sede na Rua António Maria Cardoso, os funcionários do hotel dão-no como culpado à partida e o receio persiste a partir desse momento. Ao fim de dois meses, Ricardo Reis decide sair do hotel e aluga uma casa, que irá ser constantemente vigiada pelo agente "bafo de cebola"da PIDE. Lídia visita-o nos dias de folga e mais tarde descobre que está grávida. Ricardo Reis fica em pânico com esta nova situação, mas não chegará a assumir o papel de pai pois estava já no ano da sua morte.
Esta é a minha segunda leitura de Saramago, comecei por ler o "Memorial do Convento" há oito anos para uma comunidade de leitores e deixei o livro a meio. Na altura percebi que a tão comentada dificuldade de leitura não era assim tão restritiva para compreender a história. Pelo contrário, estava a gostar mas as circunstâncias foram mais fortes e tive de abandonar a leitura. Mais tarde, em 2009 (?) li "A viagem do elefante" do qual gostei apenas da dedicatória de Saramago a Pilar del Rio... Mas como eu tinha oferecido o livro, tive de o ler pois a pessoa, que recebeu o livro, emprestou-mo para eu o ler também... Não podia desistir de um livro que eu própria tinha comprado para oferecer! À minha espera já tenho "Ensaio sobre a cegueira", sugerido por essa mesma pessoa e com boas recomendações, para poder retomar a leitura do nosso Nobel.

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